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3:51 da tarde by Sheila
As pessoas adoram se declarar como parte de grupos. Sou isso, sou aquilo. Por que ter tanto orgulho de uma muleta mental? Por que insistir tanto em ser derivado de um modelo criado como fôrma? Por que não se desligar de tudo isso e pensar por si só? Parece que as pessoas têm necessidade de apoio pra validar o próprio pensamento e as próprias ações, e ainda se acham o máximo por causa disso.
Sou petista. Sou de esquerda. Sou socialista. Sou anarquista. Sou militante.
Como se se essas e/ou outras fossem as condições indispensáveis para ser, resumidamente, crítico.
Mas não; precisa taxar, precisa classificar, precisa se diferenciar. Precisa se encaixar em modelinhos pra se afirmar. Precisa forçar um "estilo".
Sou dark. Só uso preto.
E aí o dia que usar turquesa vai entrar em crise de identidade.
Sou rockeiro. Não aturo pagode.
Eu gosto de rock sim! Mas tinha também 2 ou 3 pagodes que eu ficava cantando às vezes. E também gosto de dance, tem bastante coisa legal. Só que são coisas diferentes. Porque não atendem aos mesmos objetivos, ora! Isso é tão óbvio.
Essa prepotência me irrita.
Isso é "preconceito mental" sim.
Swallow your pride. Open your eyes.
Por acaso só a "esquerda" é crítica? Isso é uma prisão, porque se a "esquerda" fizer ou disser algo errado, você vai ter que concordar ou vai acabar concordando só porque vem "da esquerda".
Digo isso, sou assim.
Visto isso, sou assim.
Preciso ser percebido para ser.
Preciso saber quem sou. Preciso me moldar a algo pré-existente, não posso de forma alguma ser eu mesmo.
Preciso dizer que sou para eu acreditar que realmente sou.
I shop. Terefore, I am. (B.K.)
***
Eu não quero fazer parte de um modelo.
Eu não quero rotular a mim mesma.
Eu não faço questão de pertencer, eu não quero ser um estereótipo perfeito.
Não quero ter número de série.
Não quero me prender em um modelo de pensamento.
Quero pensar o que eu quiser, sem restrições, sem medo de abandonar "opiniões formadas" que eu achar que estejam erradas.
Não quero me acomodar no mesmo lugar.
Posso assimilar, posso apreender, posso esquecer, posso repensar,
só não posso me limitar.
Não quero precisar preencher meus vãos com a opinião formada de outras pessoas sem um processo próprio em mim mesma.
Posso me afeiçoar a modelos, só não posso pertencer a eles.
Não quero pagar direito autoral por cada sinapse.
Não quero ser exigida royalties pelas minhas opiniões.
O contexto da música pode até ser outro, mas as palavras soam bem convenientes.
quarta-feira, outubro 02, 2002
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9:58 da manhã by Sheila
Mais uma vez, como freqüentemente acontece quando vejo algum velhinho lutando pra correr até se sentar em um banco enquanto o ônibus arranca, me lembrei dos ônibus de Plymouth, onde morei alguns poucos meses. Os ônibus de lá, entre outras incríveis vantagens de primeiro mundo, tinham um mecanismo especial (a meus olhos, simplesmente fantástico) que o fazia abaixar até que os degraus da subida ficassem no mesmo nível da calçada. E os motoristas pacientemente, ou obedientemente, esperavam que as pessoas se acomodassem nos assentos, antes de partirem. Sempre. Sem exceção. Não lembro se o mesmo ocorre em Londres, já que Plymouth é uma cidade pequena, incomparável à capital, nem sei como é o nível de qualidade dos transportes públicos em outros estados do Brasil. Mas aqui no Rio os motoristas têm pressa demais, e os idosos que se virem para não cair enquanto se dirigem aos assentos, coitados. Os motoristas ingleses já não tinham assim tanta pressa e, se tinham, não servia pra nada, pois os ônibus tinham todos um horário marcado pra chegar e partir de cada ponto. Nem antes, nem depois. Se chegassem antes, ficavam esperando dar o horário e só então partiam, na maior tranqüilidade. É claro que esse tipo de controle, assim como a passagem ser paga de acordo com o lugar aonde você ia, não funcionaria aqui, porque brasileiro gosta de tudo desordenado mesmo, não sabe se acostumar com as coisas certinhas. Nem os motoristas nem os passageiros conseguiriam se adaptar a algo tão bem regido. E depois ainda reclamam.
segunda-feira, setembro 30, 2002
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10:29 da tarde by Sheila
Hoje o Rio de Janeiro ficou, digamos assim, esquisito o dia todo. Boatos ou não, politicagem ou não, o fato é que a maioria das lojas e estabelecimentos comerciais foram fechados porque supostamente receberam ameaças, não se sabe de quem. Aliás ninguém sabe de nada. Eu mesma estava tranqüila na praia de manhã, em Ipanema, e só soube das notícias quando cheguei em casa. Não reparei nada de anormal nas ruas, a única coisa diferente era que tinha muitas lojas fechadas, mas tudo bem, eu provavelmente não sabia de alguma coisa sem muita importância... No dia do Yom Kippur, há pouco tempo atrás, foi a mesma coisa, várias lojas não funcionaram e eu nem sabia de nada. Já estou acostumada a ser desinformada mesmo. Mas continuando: fui para a faculdade à tarde e nada ruim aconteceu, pelo contrário, o trânsito estava ótimo na volta para casa, a cidade estava calminha, as pessoas estavam todas tranqüilas, alheias a qualquer coisa grave que pudesse ocorrer a qualquer momento, segundo se dizia. A cidade estava relativamente muito bem obrigada - isso esquecendo todo o prejuízo para o comércio, claro. Fiquei meio que surpresa quando notei que as pessoas nas ruas vestiam suas mesmas expressões de sempre. Talvez estejamos todos já acostumados a essas e outras coisas. Já tá começando a virar moda esse negócio de fechar comércio. Aliás, não é legal muitas citações, mas essa é irresistível:
"Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia." Marina Colasanti, em "Uma Crônica".
domingo, setembro 29, 2002
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1:05 da tarde by Sheila
Aos cariocas: tá rolando no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) uma exposição bem bacana de Rosana Palazyan. São várias instalações que tratam da violência urbana, abordando questões como vícios, abuso sexual, miséria etc. O tema é pesado, mas as obras, feitas entre 1997 e 2002, são todas encantadoramente delicadas, contando histórias reais de crianças e adolescentes com os quais a artista teve contato, exprimindo seus sentimentos. Uma das instalações é uma sala branca com uma fita rosa bordada rodeando as 4 paredes, que o espectador vai percorrendo ao som do Tema de Lara em uma caixinha de música. Na fita, como em outros objetos, os delicadíssimos desenhos chocam-se com a brutalidade da história que eles expressam. Esse destom pode até causar um certo estranhamento, mas consegue transmitir o encontro traumático da infância com os acontecimentos ali retratados. O maior destaque da exposição é a sala escura com os "pedidos para a estrela cadente", desenhados e escritos em balões de gás que vão sendo puxados e observados aleatoriamente pelo espectador.
Confesso que, apesar dos elogios, tenho um certo preconceito com a arte que trata de temas sociais. Nenhuma obra de arte vai mudar a situação de violência no país, nem vai fazer o espectador refletir mais sobre o assunto. Depois de ver a exposição, ninguém vai entender melhor como é realmente passar pelo que é mostrado ali. Se não é pra mudar nada, então o objetivo se volta ou para a autora ou para o espectador, e aí que diferença faz para os jovens que sofreram e/ou sofrem com violência, preconceito etc, se eles nunca vào ver a exposição e pra eles aquilo é tudo distante? Enfim, como disse oscar Wilde, toda arte é completamente inútil. Mesmo.
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11:32 da manhã by Sheila
Já que eu comentei sobre a Pies Descalzos no meu penúltimo post ... Aqui vai o trechinho da letra que eu gosto, pra quem entender espanhol:
"Pies Descalzos (Suenos Blancos)"
(...)
saludar al vecino
acostarse a una hora
trabajar cada dia
para vivir en la vida
contestar solo aquello
y sentir solo esto
y que Dios nos ampare de malos pensamientos
cumplir con las tareas,
asistir al colegio.
que diria la familia si eres un fracasado?
ponte siempre zapatos,
no hagas ruido en la mesa
usa medias veladas y
corbata en las fiestas
las mujeres se casan
siempre antes de 30
si no vestiran santos
y aunque asi no lo quieran
y en la fiesta de quince
es mejor no olvidar
una fina champana
y bailar bien el vals
y bailar bien el vals
: )
* * *
Sem querer filosofar muito, acho que a letra fala (pelo menos essa parte) sobre as convenções da sociedade e tal... Que são realmente ridículas, a maioria, e se você deixa de fazer algo tem sempre alguém pra te censurar... etc... bom, vou parar por aqui.
Beijinhos aos meus amiguinhos da ECO (e aos outros também, claro...)!!
E saudações culturais aos leitores do Cultura em Tópicos !!