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1:25 da manhã by Sheila
"O barulho de bomba não foi algo de que alguém se lembrasse, não se estivesse perto. No outro lado do rio, em Königswinter, as pessoas ouviram o ruído de uma guerra estrangeira e ficaram abaladas, ensurdecidas, sorrindo umas para as outras, como cúmplices sobreviventes. (...) . Os que estavam perto, porém, a princípio nada ouviram. Só puderam falar, se é que conseguiram, da rua se inclinando de repente, uma chaminé se erguendo silenciosamente do telhado no outro lado da rua, uma ventania inesperada passando por sua casa, esticando-lhes a pele, derrubando-os, arrancando as flores dos vasos e arremessando os vasos contra as paredes. Lembravam-se do retinir de vidro quebrado e do tímido farfalhar da folhagem nova caindo na rua. E dos mugidos das pessoas assustadas demais para gritarem. Assim, as pessoas se mostraram menos conscientes do barulho e mais chocadas pelas alterações em seus sentidos. Houve também vários testemunhos sobre o volume do rádio da cozinha do conselheiro francês, anunciando estrondosamente uma receita para o dia. Uma esposa, acreditando estar sendo racional, quis saber da polícia se era possível que a explosão tivesse aumentado o volume do rádio. Numa explosão, responderam gentilmente os agentes, ao levarem-na num cobertor, tudo era possível. Naquele caso, porém, a explicação era diferente. Quebrados todos os vidros das janelas do conselheiro francês e não havendo ninguém lá dentro em condições de deslgar o rádio, nada havia que pudesse impedi-lo de falar diretamente para a rua. Mas a mulher não podia realmente compreender"
[ trecho de "A Garota do tambor, de John LeCarré ]
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1:09 da manhã by Sheila
Em uma propaganda terça-feira, na televisão, uma pouco talentosa apresentadora começava seu discurso se dirigindo a "você, que está aí arrebentando numa cama de hospital", algo assim. Não sabia se ria ou chorava, eu ao lado de uma moça cujo pai tinha acabado de ser operado e ela agora procurava se distrair assistindo um inofensivo programinha de fofocas. Que definição mais infeliz essa criada pela mulher do anúncio de algum seguro de não sei o quê. Se o objetivo dela era atingir um indivíduo que estivesse ou já tivesse estado "arrebentado" no hospital, ou algum parente/amigo de um "arrebentado" próximo, ou alguém temeroso de chegar à situação de arrebentado, provavelmente perdeu qualquer cliente possível.
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12:52 da manhã by Sheila
Os candidatos políticos são os garotos-propagadnda mais feios que existem. Em época de eleições a cidade é tomada por produtos de publicidade de extremo mau gosto e péssimo visual.
Mikaela hoje tem 18 anos bem vividos, é estudante, universitária, ecoína (ECO)
Pretende, um dia, ser jornalista
É obcecada por música, especialmente aquelas antigas, mas também ouve bastante rock
Odeia futebol, carnaval e impontualidade, mas é, sim, carioca, e viciada em praia
Odeia a política e os políticos
Não acredita no comunismo
Admira um humor inteligente e filmes bem feitos
Ama pessoas malucas, loucas, desequilibradas, ... - desde que sejam divertidas
Adora o cheiro de cigarro, de gasolina, de cola de sapateiro e de tinta
Odeia TV e amaldiçoa as novelas, mas não resiste às notícias de fofoca
Tem medo do escuro até hoje
Acredita em Deus e na beleza intrinsicamente prosaica do cotidiano, mas sabe que às vezes poesia faz mal
Mas esqueçamos esses detalhes. Não pretendo me mostrar muito nesse discretíssimo blog - meu único objetivo é escrever, escrever, escrever. Misturando lyrics + comments + ideas + anything else. Comentando o que acontece à minha volta.
(E a Travessa dos Poetas de Calçada fica escondidinha lá no Centro do Rio; não tem nada de mais, só um nome bonito. Os poetas que passam por lá, costumam passar despercebidos)
quinta-feira, setembro 12, 2002
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1:08 da tarde by Sheila
Travessa dos Poetas de Calçada
Mikaela Katz
Rio de Janeiro